quarta-feira, 26 de novembro de 2008

"As famílias felizes parecem-se todas; as famílias infelizes são infelizes cada uma à sua maneira."Leon Tolstoi, em Ana Karenina.

Em verdade, esta frase a escolhi por quase combinar com o que andei pensando semana passada. Andei pensando em três ocasiões diferentes para ser mais exata. Na primeira delas eu estava prestes a atravessar uma grande avenida, esperando o sinal de pedestres abrir, quando uma senhora aproximou-se e comentou que aquele semáforo demorava muito para mudar de cor. Eu, para não ser grosseira, respondi que ele só abriria quando outra pessoa apertasse o botãozinho do outro lado também. Bem, isto foi o suficiente para a senhora acompanhar-me praticamente todo o caminho que eu precisava percorrer. Durante todo o trajeto, tentando acompanhar meus passos, ela falou sobre várias coisas: o trânsito, os motoqueiros, a velocidade, minha gravidez, meu cabelo, etc. Foi neste último item que ela se segurou. Disse que já tinha tido os cabelos curtinhos como os meus, mas que tinha deixado de cortá-los porque havia feito um pacto com Deus: estava doente e queria a cura, e curou-se. Despediu-se com um "Deus te acompanhe".
Na segunda ocasião, voltando pra casa do trabalho, ao entrar no ônibus me dirigi ao fim deste para facilitar a descida já que estava entupido de gente (ô coisa mais suburbana, rsrsrsrs...). Chegando na traseira, me deparei com uma cena bem incomum: um casal de hippies, daqueles que possuem tatuagens por todo o corpo, até na testa, cheio de malas e bagagens e acompanhado de seus 6 filhos - um rapaz, aparentando uns 17 anos, e 5 meninas com idades entre 13 e 2 anos. Logo que me aproximei, o patriarca, beirando seus 50 anos, perguntou-me se eu conhecia determinado lugar, então ensinei como eles chegariam lá. O interessante é que ele agradeceu e continuou a conversar comigo como se já me conhecesse há anos. A menor das filhas estava no colo da mãe e sorriu pra mim durante todo o caminho. Pisquei um olho pra ela e ela piscou de volta, achei muito fofo, nunca tinha visto uma criança tão pequena piscar um olho só... Algo muito peculiar me chamou a atenção naquela família: pareciam não se importar com a atenção que os demais passageiros lhes dispensavam, pareciam viver em um mundo próprio, alheios aos olhares e comentários maldosos. Achei aquilo o máximo... No braço da mãe havia uma frase tatuada: "É sempre mais fácil achar que a culpa é do outro". É como se a frase fosse a verdadeira aliança daquele casal, como se eles tivessem se comprometido a compreender-se mutuamente para que pudessem viver sempre em harmonia... E foi o que consegui ver naquela família tão pouco convencional: harmonia.
Na terceira e última ocasião, também dentro do ônibus de volta pra casa, uma senhora sentou-se ao meu lado. Perguntou o tempo da gestação e comentou o quanto eu estava bonita. Depois contou-me sobre a sua única gestação, que tinha tido depressão pós-parto, que casou-se com mais de 30 anos, o que fez para o enxoval da bebê, o quanto engordou até chegar ao ponto de não reconhecer-se no espelho, etc. Foi uma conversa bem longa, quer dizer, um monólogo bem longo... Mas eu estava prestando atenção ao que ela falava, talvez pudesse tirar alguma experiência valiosa daquilo tudo.
Assim que cheguei em casa, parei para analisar os três momentos, e percebi que às vezes passamos tempo demais preocupados com o que ainda temos por fazer, com o trabalho, com as tarefas diárias, com as contas a serem pagas... O que quero dizer é que sempre temos escolha. Que a vida que levamos é fruto das escolhas que fazemos, do que priorizamos. Deus, liberdade, família. Seja qual for a escolha, que ela seja autêntica.

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