segunda-feira, 23 de junho de 2008

São João

Família reunida, várias mãos de milho no quintal, véspera de São João. As mulheres da minha família (inclusive as crianças) se dividiam em tarefas. Tirar a palha do milho e limpá-lo. Minha mãe, a filha mais velha e dona da casa em que ocorriam esses "rituais", escolhia as espigas que serviriam para fazer pamonhas, canjica, bolo, as que seriam cozidas e as que seriam assadas na fogueira. A esta altura, geralmente, já havia algum outro tipo de bolo já pronto, como o pé-de-moleque e o de mandioca. Depois de escolhidas as espigas, algumas de nós as debulhavam, outras ralavam, dependendo do destino daquele montante separado. Enquanto isso, alguém (quase sempre eu) já estava ralando o coco e minha mãe, pacientemente, extraindo o leite. Tudo era feito com muito cuidado, pra nada "passar do ponto" nem ficar "ralo". Lembro que, uma vez, depois de uma boa quantidade de milho ralado, minha avó estava toda salpicada de sumo de milho, seus óculos e até as bananas da fruteira sobre a mesa. Ríamos muito e conversávamos muito. Chegava a hora mais trabalhosa: mexer a canjica. Várias horas de revezamento, força e esmero, "pra não grudar no fundo do caldeirão", "pra não ficar com gosto de sabão", "pra não queimar"... E as pamonhas? "Só sei fazer as 'carinhas de gato'", dizia minha mãe. "Corre pra amarrar a pamonha, vai derramar tudo!" "Preciso de mais palha!" Ao cair a noite, era a vez dos homens. Fogueira montada na frente da casa, espera pelas 18h. Todo ano painho inventava um novo modo de acendê-la. Era com álcool, com óleo, com pedaços de pão, com jornal velho... Mas sempre a acendia. Comidas prontas (raspar o fundo do caldeirão de canjica era uma verdadeira delícia!), crianças de banho tomado, milho já assando. Terraço enfeitado com bandeirinhas de papel de seda feitas por minha mãe, eu e meu irmão, coladas ao barbante com grude de farinha. Hora dos fogos! Traque-de-massa, estrelinha, chuveirinho, bombinhas variadas, rojões, vulcões! Ah quantas lembranças boas... A saudade bate no peito e insiste em ficar... A frustração de uma expectativa não correspondida se mistura com a melancolia que surge com estas lembranças... Hoje, cada um com seu cada um e cada qual com seu cada qual.

2 comentários:

Viivih Silva disse...

Puxa Ticiana, seu blog é muito bom!!

É a primeira vez que entro... Mas gostei muito do que li.

E entrarei mais vezes...

Parabéns pelo blog tão perfeito...

Ticiana disse...

Ah, muito obrigada Viviane!!!